Quando a floresta pede cuidado: um olhar sobre os efeitos da malária na mente dos idosos amazônicos
Entre rios que se entrelaçam como artérias e florestas que respiram em verde profundo, a Amazônia é mais do que uma paisagem — é uma força viva que abriga histórias, saberes e também desafios que pedem atenção constante. Viver aqui é conviver com belezas e vulnerabilidades, onde doenças tropicais ainda testam os limites da ciência e da resistência humana. Foi nesse cenário que nasceu uma das pesquisas mais inovadoras sobre saúde na região: um estudo que revela como a malária Plasmodium vivax pode afetar as funções cognitivas e executivas de idosos amazônicos.
Ciência que nasce da Amazônia para o mundo
Conduzido pelo neuropsicólogo Rockson Pessoa, no Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), em parceria com a Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), o estudo é o primeiro no mundo a identificar impactos da malária vivax na saúde cognitiva de pessoas idosas.
A pesquisa acompanhou 140 idosos em Manaus, divididos entre quem havia sido infectado pela doença e quem não apresentava histórico recente de malária. Em diferentes etapas — da fase aguda até oito meses após a infecção —, os participantes passaram por avaliações neuropsicológicas que analisaram memória, raciocínio, flexibilidade cognitiva e capacidade de planejamento.
Os resultados acenderam um alerta: mesmo meses após o tratamento, idosos que tiveram malária apresentaram déficits cognitivos persistentes, com prejuízos em habilidades mentais essenciais para a autonomia e a qualidade de vida. O estudo também apontou que quanto maior o número de episódios de malária ao longo dos anos, mais intensos os impactos nas funções do cérebro.
Uma descoberta com significado amazônico e global
Em uma região onde a malária ainda é um desafio recorrente — o Amazonas concentra cerca de 40% dos casos de malária do país, segundo dados do Ministério da Saúde —, compreender seus efeitos de longo prazo é fundamental. A descoberta abre caminhos para políticas de atenção à saúde do idoso na Amazônia, incluindo o acompanhamento cognitivo de quem enfrentou a doença.
Mais do que um alerta epidemiológico, o trabalho de Rockson Pessoa representa o avanço de uma ciência feita a partir da Amazônia, por pesquisadores comprometidos em traduzir os desafios da floresta em conhecimento de impacto global.
Reconhecida nacional e internacionalmente, a FMT-HVD tem se consolidado como referência em pesquisas sobre doenças tropicais, reunindo especialistas que atuam na fronteira entre saúde pública e inovação científica. Além dos estudos sobre malária, a instituição lidera investigações sobre hepatites virais, leishmaniose, arboviroses e HIV, fortalecendo a produção de ciência amazônica voltada para o cuidado humano e para políticas de saúde mais justas e sustentáveis.