Como inovação digital pode impulsionar a bioeconomia amazônica
Na encruzilhada entre floresta e tecnologia, surge uma proposta ousada: transformar produtos da sociobiodiversidade amazônica em ativos digitais que movimentam investimento, geram renda local e contribuem para a conservação. Essa é a missão da ForestiFi, uma startup manauara que aposta na tokenização de cadeias produtivas sustentáveis.
Com apoio de tecnologias como blockchain, contratos inteligentes e rastreabilidade digital, o modelo da ForestiFi pretende conectar investidores de impacto a comunidades extrativistas da Amazônia — e com isso gerar valor para produtos como castanha, guaraná, cacau nativo e pirarucu de manejo.
Como funciona a proposta da ForestiFi?
- Ativos da floresta são tokenizados — por exemplo, 1.850 kg de castanha se tornam tokens digitais lastreados na produção local.
- Investidores compram os tokens, financiando diretamente cooperativas e associações de base comunitária.
- Blockchain garante rastreabilidade — permitindo verificar origem, compromissos socioambientais e transparência das operações.
- Comunidades recebem recursos adiantados, conseguem planejar a produção e melhorar sua renda.
O modelo já foi aplicado a cadeias como:
- Castanha-da-Amazônia
- Guaraná selvagem
- Cacau nativo
- Pirarucu de manejo

O que ainda precisa evoluir?
Apesar do potencial, o modelo ainda enfrenta entraves:
| Desafio | Explicação | Oportunidade de ação |
|---|---|---|
| Baixa escalabilidade | Cada projeto exige análise personalizada | Automatizar auditorias, criar APIs para replicação |
| Desigualdade digital | Conectividade limitada e baixa alfabetização digital | Desenvolvimento de interfaces acessíveis + apoio técnico |
| Insegurança jurídica | Lacunas na regulação da tokenização de ativos florestais e coletivos | Trabalhar com marcos regulatórios e protocolos jurídicos éticos |
| Governança comunitária frágil | Participação local ainda é limitada nas decisões estratégicas | Criar DAOs ou conselhos com voto comunitário real |
| Foco restrito ao produto físico | Não tokeniza saberes, serviços ambientais ou territórios conservados | Expandir o escopo para novos tipos de ativos |
| Transparência do impacto | Investidores nem sempre têm clareza dos resultados sociais/ambientais | Relatórios públicos, dashboards e auditorias sociais |
Estudos de caso: outras soluções semelhantes no Brasil
A ForestiFi não está sozinha nessa jornada. Diversas outras iniciativas vêm testando modelos de tokenização aplicados à floresta, ativos ambientais e cadeias produtivas sustentáveis. Veja o comparativo:
| Nome da Iniciativa | Proposta | Similaridades com a ForestiFi | Diferenças-chave |
|---|---|---|---|
| ForesToken | Plataforma de tokens lastreados em florestas plantadas (m³ de madeira) | Tokenização, blockchain, ativo florestal | Foco em florestas plantadas, não extrativismo |
| Abundance Brasil | Tokens de reflorestamento em propriedades rurais, com foco em sequestro de carbono | Investimento de impacto, token como instrumento de sustentabilidade | Foco em carbono e reflorestamento, não em produtos da sociobiodiversidade |
| 4Rest | Tokenização de áreas preservadas (1 token = 1 m² de floresta) | Rastreabilidade, conservação, impacto ambiental | Foco exclusivo em preservação, não em geração de renda com produção |
| Standing Forest Coin (SFC) | Moeda digital acadêmica voltada à proteção de floresta nativa | Uso de blockchain para conservação florestal | Ainda é conceitual, sem operação ativa no mercado |
Análise: Enquanto a ForestiFi une produção sustentável, comunidades e rastreabilidade, outras soluções focam em carbono, florestas plantadas ou conservação passiva. A integração de múltiplos ativos da sociobiodiversidade torna o modelo da ForestiFi único — e também desafiador.
Como a Muraki pode colaborar com esse ecossistema?
A Fundação Muraki pode ter um papel estratégico na adaptação, multiplicação e consolidação desse tipo de inovação para a realidade amazônica.
Possibilidades de atuação:
- Educação e formação
Incluir tokenização e inovação socioambiental em programas de formação de recursos humanos na Amazônia. - Articulação de comunidades e startups
Facilitar parcerias entre associações extrativistas e plataformas digitais, ajudando na construção de confiança, estrutura jurídica e apoio técnico. - Promoção de novos ativos tokenizáveis
Apoiar projetos-piloto que explorem tokenização de:- Reflorestamento comunitário
- Serviços ambientais hídricos
- Saberes tradicionais (com proteção e ética)
- Turismo sustentável de base comunitária
- Apoio à regulação e políticas públicas
Participar da construção de políticas locais que reconheçam e regulem a tokenização como ferramenta para inclusão e desenvolvimento sustentável.
A Amazônia pode — e deve — liderar a revolução da bioeconomia inclusiva. Iniciativas como a ForestiFi mostram que é possível combinar tecnologia de ponta, inteligência coletiva e valores socioambientais para criar novos caminhos. Mas para isso, é preciso mais do que boas ideias: é necessário rede, governança, formação, infraestrutura e instituições comprometidas.
A Fundação Muraki reafirma seu compromisso de estar nesse debate, fomentando soluções que respeitem as pessoas, a floresta e o futuro. A tokenização pode ser mais que um conceito: pode ser uma ferramenta real para fazer a floresta valer mais em pé do que derrubada.




