A Amazônia é o maior celeiro de biodiversidade do planeta. Essa riqueza natural, aliada aos saberes tradicionais e à ciência, abre espaço para um novo modelo de desenvolvimento: a bioeconomia. Mais do que um conceito, ela representa uma aposta concreta para gerar renda, inovação e sustentabilidade, colocando a região como protagonista de soluções globais.
Tecnologia como aliada da floresta
O avanço tecnológico potencializa a transformação dos ativos da biodiversidade em produtos e processos de alto valor agregado. Da biotecnologia ao uso de inteligência artificial, do sensoriamento remoto ao desenvolvimento de novos materiais sustentáveis, a bioeconomia amazônica mostra que é possível unir conhecimento científico e inovação para criar cadeias produtivas que respeitam o meio ambiente e geram impacto social.
Casos que mostram que a bioeconomia já é realidade
- Amazonly Cosmetics (AP) – transforma óleos e manteigas vegetais da floresta em cosméticos sustentáveis, com insumos fornecidos por comunidades ribeirinhas e indígenas. O resultado é geração de renda local e valorização dos saberes tradicionais.
- AGJTech (AM) – startup manauara que utiliza o caroço de açaí, antes descartado como resíduo, para produzir bioplástico. Um exemplo de inovação circular que conecta sustentabilidade e mercado global.
- Projeto MAM GÁP (MT) – conduzido pelo povo indígena Zoró, fortalece a identidade cultural e a autonomia por meio do extrativismo sustentável da castanha-do-Brasil.
- Terramazônia (PA) – aproveita resíduos da castanha para desenvolver alimentos funcionais, agregando valor a um produto amazônico tradicional e abrindo novas possibilidades para a indústria alimentícia.
Esses e muitos outros projetos provam que a bioeconomia amazônica já está em curso — inovadora, inclusiva e sustentável.
O diferencial da Amazônia
O grande trunfo da região está na combinação entre diversidade biológica e diversidade cultural. Povos tradicionais, pesquisadores, empreendedores e instituições de ciência e tecnologia somam forças para transformar o potencial da floresta em soluções concretas para os desafios do presente e do futuro.
A conferência que conecta inovação e futuro
Para aprofundar esse debate e dar visibilidade a novas ideias, a 6ª Conferência Internacional sobre Processos Inovativos da Amazônia (AMOCI) reunirá em Manaus pesquisadores, empreendedores, investidores e instituições de ciência e tecnologia. O evento será um espaço estratégico para trocar experiências, apresentar cases de sucesso e fortalecer o ecossistema de inovação da região.
Imagine um peixe tão grande quanto um homem adulto. Um peixe que respira ar, que sobe à tona dos rios da Amazônia com um som abafado, como um suspiro. Esse é o pirarucu, também conhecido como o “gigante das águas”. Por séculos, ele alimentou comunidades ribeirinhas, virou lenda entre pescadores, foi caçado até quase desaparecer — e agora, em pleno século XXI, voltou a ser símbolo. Mas de quê?
De conservação. De resistência. E, mais recentemente, de moda de luxo internacional. Sim, o pirarucu agora desfila, literalmente, nas passarelas do mundo, transformado em bolsas, sapatos e acessórios vendidos por milhares de reais. Sua pele, antes descartada como resíduo, tornou-se um couro nobre, procurado por marcas que usam o discurso da sustentabilidade como grife.
O que parecia um triunfo completo — o reaproveitamento de um subproduto, a recuperação da espécie, o envolvimento das comunidades tradicionais — tem, porém, um lado que ainda precisa emergir à superfície: a injustiça na distribuição do valor gerado.
Da pesca ao luxo: o que falta no meio do caminho

O modelo de manejo do pirarucu é um dos mais bem-sucedidos do Brasil. Com o apoio do Ibama e organizações locais, as comunidades indígenas e ribeirinhas são responsáveis pela contagem dos peixes, proteção dos lagos e captura de apenas 30% dos exemplares adultos a cada temporada. Essa prática garantiu a recuperação populacional da espécie — antes proibida — e passou a ser exemplo internacional de pesca sustentável.
No entanto, segundo representantes de federações de manejadores, como Pedro Canízio, o retorno financeiro não acompanha o esforço. Enquanto o couro do pirarucu brilha nas vitrines de Nova York e Milão, pescadores recebem algo em torno de R$ 11 por quilo do peixe inteiro. A cadeia produtiva é longa, cara, e muitas vezes opaca. Quando a pele sai da Amazônia, passa por frigoríficos, curtumes e empresas exportadoras — como a Nova Kaeru, que domina mais de 70% do mercado — antes de chegar aos produtos finais.
Os obstáculos são grandes: falta de infraestrutura, carência de capacitação técnica nas comunidades, e dificuldade de agregar valor localmente. Sem contar o contrabando e a pesca ilegal, que ainda drenam parte significativa da produção. O Ibama reconhece que não há hoje uma fiscalização eficaz para acompanhar o pirarucu desde os lagos até os curtumes — o que compromete a rastreabilidade e favorece o mercado informal.
Quando o futuro não é promessa, mas trabalho

Apesar dos desafios evidentes, o futuro do pirarucu — e das comunidades que fazem dele sua base de sustento e cultura — é construído com seriedade por quem está no território. Longe dos holofotes do mercado de luxo, instituições públicas de pesquisa da Amazônia vêm desenvolvendo trabalhos consistentes, que unem ciência, tecnologia, saber tradicional e compromisso com o desenvolvimento regional.
Uma pesquisa de iniciação científica do Tiago de Melo Meza, estudante da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), foi vencedora do 22.º Prêmio Destaque na Iniciação Científica e Tecnológica do CNPq, na categoria bolsista de iniciação científica, com um trabalho sobre manejo participativo do pirarucu. O estudo envolveu comunidades tradicionais da Amazônia Central, analisou desafios na comercialização da espécie e destacou aspectos socioeconômicos.
Já na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), a pesquisadora Kedra Yamamoto tem liderado estudos que integram sensoriamento remoto, dados socioeconômicos e conhecimento ecológico tradicional para entender como o manejo do pirarucu pode ser fortalecido em municípios como Coari. A abordagem é interdisciplinar: alia tecnologias de georreferenciamento com os relatos de pescadores locais sobre hábitos da espécie, sazonalidades e pressões ambientais. A UFAM também abriga dissertações de mestrado voltadas à análise sensorial e sanitária da carne salgada do pirarucu — produto amplamente comercializado nas feiras amazônicas —, além de pesquisas em etnoictiologia, que tratam das percepções culturais e espirituais que comunidades tradicionais têm sobre o peixe.
A FAPEAM (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas) vem cumprindo papel estratégico ao financiar projetos voltados à melhoria genética, nutrição, sanidade do pirarucu em cativeiro e, principalmente, ao desenvolvimento de soluções para a agregação de valor localmente. Há ainda o incentivo a estudos sobre a logística reversa da cadeia produtiva, com vistas a aproveitar melhor a pele, as vísceras e outros subprodutos.
Por sua vez, instituições como a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-RCP) e a Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD) têm inserido a temática do pirarucu em programas relacionados à segurança alimentar, vigilância nutricional e impactos socioambientais da pesca artesanal. Embora ainda discretas, essas iniciativas dialogam com o uso do peixe como fonte primária de proteína animal nas comunidades ribeirinhas, inclusive em ações de combate à desnutrição e monitoramento de contaminantes em populações vulneráveis.
O que essas experiências mostram é que a transformação do pirarucu em ativo de desenvolvimento regional não virá apenas do mercado — mas da ciência feita no chão da Amazônia, com os pés no barro e os olhos no futuro. E esse futuro, cada vez mais, está sendo construído por pesquisadores e instituições comprometidas com uma economia que respeita a floresta, valoriza quem nela vive e não trata o conhecimento local como folclore, mas como parte fundamental da solução.
A potência da Amazônia nasce no território
A criação de iniciativas como o Coletivo do Pirarucu, a marca Gosto da Amazônia e a articulação de associações ribeirinhas em torno do aproveitamento da pele e da carne mostram que o potencial da Amazônia está nos territórios e nas pessoas que os conhecem melhor do que qualquer outro: os próprios ribeirinhos e indígenas.
Mas para que essa riqueza vire prosperidade com dignidade, o caminho exige algo mais que discursos bonitos. Exige investimento em tecnologia acessível, políticas públicas de fomento direto às comunidades, e compromisso real das empresas que usam a imagem da Amazônia como diferencial de mercado.
A Fundação Muarki acredita que essa transição é possível — e inevitável, se quisermos um futuro em que floresta, peixe, comunidade e economia cresçam juntos. Que o couro do pirarucu continue encantando o mundo, sim. Mas que quem o pesca, o protege e o conhece como parte da vida possa, enfim, fazer parte da vitrine.
Quando correr é também um ato de cuidar
Você sabia que um dos animais mais ameaçados da Amazônia vive aqui mesmo, em Manaus? E que ele é o símbolo oficial da cidade? Estamos falando do sauim-de-coleira, um pequeno primata de aparência marcante que, apesar de carismático, está em risco crítico de extinção.
Mas nem tudo são más notícias. A cada ano, mais pessoas se juntam a uma causa que une esporte, educação e conservação ambiental: a Corrida Sauim-de-Coleira, promovida pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Em 2025, o evento chega à sua 3ª edição, fortalecendo o compromisso com a ciência, a comunidade e o meio ambiente.

Quem é o sauim-de-coleira?
O sauim-de-coleira (Saguinus bicolor) é endêmico da região metropolitana de Manaus, o que significa que ele não existe em nenhum outro lugar do mundo. Vive em uma área cada vez menor, pressionada pelo crescimento urbano, desmatamento e fragmentação de habitat.
Com sua pelagem preta e branca — que lembra uma coleira —, o sauim não passa despercebido. Mas sua presença está se tornando cada vez mais rara. Estudos apontam que sua população foi reduzida em cerca de 80% nos últimos anos, tornando-o um dos primatas mais ameaçados do Brasil.
Por sua relevância ecológica e cultural, o sauim-de-coleira foi oficialmente declarado símbolo de Manaus — e representa hoje o grande desafio da convivência entre cidade e floresta.
Um evento que mobiliza pelo cuidado
Para chamar atenção à urgência da preservação, a UEA criou em 2023 a Corrida Sauim-de-Coleira. A ideia é simples: usar o esporte como ferramenta de conscientização e engajamento popular. Desde então, o evento cresceu em participação e visibilidade, envolvendo corredores, famílias, acadêmicos, ativistas e apaixonados pela floresta.
3ª Corrida Sauim-de-Coleira: venha correr por essa causa

A próxima edição está marcada para o dia 24 de outubro de 2025, em celebração ao Dia do Sauim-de-Coleira e ao aniversário de Manaus.
Você pode escolher entre:
- Corrida de 5 km ou 10 km
- Caminhada de 5 km
- Categoria especial para pessoas com deficiência (cadeirantes e deficientes visuais)
Inscrições abertas até 20 de outubro no site Ticket Sports. Pessoas com deficiência e doadores de sangue têm isenção da taxa, mediante comprovação.
E o que mais tem além da corrida?
Além da corrida em si, o evento tem um clima de celebração. Há distribuição de mudas, ações de saúde, premiações para os primeiros colocados e até para as maiores equipes inscritas. A entrega dos kits (com camiseta, medalha e brindes) acontece no dia 23 de outubro, na Reitoria da UEA.
Mas o mais importante mesmo é sair de lá com a sensação de que você fez parte de algo maior — de um movimento que quer manter vivo esse símbolo da cidade.
Por que isso importa?
- Entrega de kits com camiseta, medalha e brindes
- Premiações em dinheiro para os três primeiros colocados de cada categoria
- Atividades ambientais e educativas
- Distribuição de mudas e serviços de saúde
A retirada dos kits será no dia 23 de outubro, na Reitoria da UEA (Av. Djalma Batista, 3578).
Mais do que uma competição, a Corrida Sauim-de-Coleira é um chamado à ação. Cada passo dado na avenida é também um passo em direção a uma cidade mais consciente, mais inclusiva e mais conectada com sua biodiversidade.
A UEA transforma essa corrida em um momento de reflexão e mobilização. Juntos, mostramos que preservar não é uma escolha isolada — é uma tarefa coletiva, que começa com o simples gesto de olhar com atenção para o que temos ao nosso redor.
A Fundação Muraki, como instituição do terceiro setor, tem orgulho de ser parceira da UEA nesta iniciativa, apoiando a organização logística, técnica e social da corrida, por meio da Escola Superior de Tecnologia (EST) e outras unidades da universidade.
